
A expulsão dos judeus da Espanha, em 1492, e a Conversão Forçada de 1497, em Portugal, produziram a "Diáspora Sefaradita", levando judeus e cristãos novos a buscar refúgio em terras como as do Norte da África e as do extenso Império Otomano. No Mediterrâneo, os judeus ibéricos posicionaram-se em núcleos urbanos na Itália e nos Bálcãs, compondo formidável rede familiar de relações sócio-econômicas, que tornou válida a idéia do Mediterrâneo como o "Mar Sefaradita" ou o "Mare Nostrum Sephardicum", expresso por alguns historiadores. Bayasid II e seus sucessores, a partir do século XV, acolheram os sefaraditas no domínio otomano e valeram-se de seus préstimos e conhecimentos não só para a expansão e desenvolvimento do comércio regional e internacional, mas também para o incremento das finanças, diplomacia, negócios bancários, corretagem e ourivesaria. Os refugiados de origem ibérica foram designados pelos dirigentes otomanos a importantes cargos político-administrativos, participando, inclusive, da estratégia de colonização de diversas áreas do vasto Império. Os positivos contatos mantidos entre sefaraditas e otomanos permitiram que laços de identidade se solidificassem com o tempo, em convivência de mútuo e duradouro respeito. O sistema político-administrativo otomano permitiu às minorias a preservação da religião, do idioma, das tradições e costumes. Em meados do século XVII, novas conquistas levaram os otomanos a ampliar seus domínios,

Curioso foi o encontro cultural entre os sefaraditas e os diversos grupos de judeus do Oriente Médio. O orientalista Issachar Ben Ami, professor da Universidade Hebraica de Jerusalém, estudando a interação cultural produzida, assinalou que os contatos entre os sefaraditas e os judeus orientais seguiram três caminhos distintos: o da assimilação total dos exilados com os autóctones; o da preservação completa ou parcial da cultura dos exilados e o da influência direta e recíproca entre os dois grupos . Ben Ami acrescentou que os processos de interação dependeram da aproximação e afastamento dos envolvidos, em função de sua realidade numérica e condições locais. Além das terras mediterrâneas e otomanas, os sefaraditas estabeleceram-se em cidades da Europa Ocidental e Central, entre as quais as da França, Países Baixos e Inglaterra. Na cidade de Viena, ponto de passagem dos judeus espanhóis para Istambul, capital do Império Otomano, religiosos sefaraditas passaram para o ladino algumas preces judaicas . A decadência otomana e a ingerência do imperialismo europeu em terras do Oriente Médio levaram famílias de negociantes sefaraditas, procedentes de Istambul, Esmirna, Ilha de Rodes, Egito e de outras comunidades a buscar estabelecer-se em terras da Europa Ocidental, em diáspora à que chamamos de "Retorno ao Ocidente".
Em fins do século XV, judeus e cristãos novos ligados à epopéia dos Grandes Descobrimentos Marítimos participaram da colonização das terras ibero-americanas, africanas e asiáticas. Em 1636, uma comunidade judaica de origem portuguesa fixou-se no Nordeste brasileiro, procedente de Amsterdã. Dezoito anos depois, expulsos dos domínios batavos no Brasil, os sefaraditas que não retornaram a Amsterdã criaram os primeiros centros judaicos da América Central e de Nova Amsterdã, núcleo comunitário inicial da atual cidade de Nova York. Em meados do século XIX, movimentos migratórios leste-oeste-sul intensificaram-se e a maioria dos povos buscou a América. No contexto, o judeu, mais do que qualquer outra etnia, esteve presente em todos eles: cerca de sete milhões de judeus, de uma população total de doze milhões, passaram da Europa, Norte da África e Oriente Médio para a América. Além do Norte da América, grande número de sefaraditas buscou o México, Uruguai, Chile e Argentina, em especial por dominarem o ladino, idioma próximo do espanhol. Desconhecendo a proximidade do idioma materno com o português, poucas famílias sefaraditas buscaram o Brasil. Um dos movimentos migratórios sefaraditas foi o do retorno à Espanha. O político Angel Pullido, autor de "Espanhóis sem Pátria"4, buscando reconciliar a Espanha com os sefaraditas, expulsos em 1492, conseguiu-lhes a cidadania espanhola, após terminada a 2a Guerra Mundial. Finalmente, em 31 de março de 1992, comemorando os 500 anos do Édito dos reis Fernando e Izabel, o rei Juan Carlos proclamou: "Si Sefarad desterró a sus judíos, ellos non desterraron a Sefarad ni de su corazón, ni de su mente".
Por Rachel Mizrachi
1 Avigdor Levy. The Jews of the Ottoman Empire. N. Jersey: The Darwin Press, Inc., 1992. 2 Ben Ami Issachar. Sephardi and Oriental Jewish Heritage. Universidade Hebraica de Jerusalém, 1982. In, Identidade Sefaradi: Aculturação e Assimilação. Novinsky e Kuperman. Ibéria Judaica. Roteiros da Memória. São Paulo, EDUSP, 1996, p.343 e seg. 3 Anna Barki Bigio. Ladino e Hakitia: fontes, trajetórias e dichos. In: Confarad II, no prelo. 4 Obra publicada em Madrid, 1980. Rachel Mizrahi é autora de A Inquisição no Brasil: Miguel Telles da Costa, O capitão judaizante de Paraty. (2a.Ed., no prelo) e Imigrantes no Brasil: Os judeus. São Paulo: Lazuli/Ed. Nacional, 2005
Fonte: Morashá.com
1 Avigdor Levy. The Jews of the Ottoman Empire. N. Jersey: The Darwin Press, Inc., 1992. 2 Ben Ami Issachar. Sephardi and Oriental Jewish Heritage. Universidade Hebraica de Jerusalém, 1982. In, Identidade Sefaradi: Aculturação e Assimilação. Novinsky e Kuperman. Ibéria Judaica. Roteiros da Memória. São Paulo, EDUSP, 1996, p.343 e seg. 3 Anna Barki Bigio. Ladino e Hakitia: fontes, trajetórias e dichos. In: Confarad II, no prelo. 4 Obra publicada em Madrid, 1980. Rachel Mizrahi é autora de A Inquisição no Brasil: Miguel Telles da Costa, O capitão judaizante de Paraty. (2a.Ed., no prelo) e Imigrantes no Brasil: Os judeus. São Paulo: Lazuli/Ed. Nacional, 2005
Fonte: Morashá.com
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